Dicas práticas para conhecer melhor o mercado em que se quer atuar
Escrito por Marcelo Nakagawa, especialista em empreendedorismo.
Muitos empreendedores não se prepararam como deveriam no que diz respeito ao entendimento do mercado em que atuam. Falham ao levantar as informações que estão disponíveis na internet. Neste caso, precisam aprender a usar a opção Google Advanced Search em que pesquisas mais direcionadas podem ser feitas. Erram ao não buscar conhecimento em revistas, sites e empresas de pesquisa especializadas e associações do setor. Desconhecem que podem ressuscitar sites antigos de concorrentes ou de negócios semelhantes que fracassaram no Archive.org para analisar o que aconteceu.
Mas o maior erro é não interagir diretamente com o mercado em que pretendem atuar. Não raro, o sonho de criar um negócio vira pesadelo logo no primeiro mês. É a moça que sempre sonhou em abrir uma loja de calçados e depois descobre (tarde) que gosta de sapatos, mas não de vendê-los. É o rapaz que abriu um negócio de chocolates, mas depois de um mês percebeu que aquele cheiro dá enxaqueca.
Para conhecer (de fato) o mercado, é preciso estar dentro dele. Alguns empreendedores brasileiros fizeram (muito bem) a lição de casa. Veja alguns exemplos:
Viva a experiência atual do cliente: Robinson Shiba, fundador do China in Box, antes de abrir o negócio visitou todos os restaurantes chineses que encontrou no Brasil. Foi com um olhar de antropólogo, observando quem eram os clientes, do que gostavam e não gostavam, como escolhiam o restaurante, se lembravam ou não do nome do estabelecimento, quem eram os melhores cozinheiros, entre outras informações. Viver a experiência atual do cliente não é simplesmente comprar o produto ou usar o serviço. É importante que o futuro empreendedor perceba e analise a experiência que o cliente tem como um todo, antes, durante e depois da interação com a empresa.
Trabalhe no ramo: Alexandre Borges, não o ator, mas o empreendedor da Mãe Terra, uma das líderes do mercado de alimentos naturais no Brasil, bem antes de começar a vender granola e grãos, se mandou para os Estados Unidos para trabalhar na The Whole Foods, maior varejista de produtos naturais, integrais e orgânicos do mundo. Lá aprendeu como funciona a rede e interagiu com os produtos e fornecedores. De volta ao Brasil, comprou uma marca tradicional que apenas ensacava produtos in natura e a posicionou no lucrativo mercado de alimentação saudável.
Prototipe e valide sua ideia antes: Todos os empreendedores que passam pelos novos programas de aceleração de startups aprendem que uma ideia em si não vale nada e que o mais importante é como o mercado reage a ela. Mas isto não foi válido apenas para startups de tecnologia como a EasyTaxi, iFood ou TruckPad. Juliana Motter era jornalista e trabalhava em uma revista feminina. Um amigo iria lançar um livro e pediu que ela preparasse alguns brigadeiros para servir no evento de lançamento. O brigadeiro fez mais sucesso que o livro e Juliana atendeu vários pedidos trabalhando em casa antes de decidir abrir a Maria Brigadeiro, a primeira brigaderia do mundo.
Conhecer o mercado é mais do que informações e dados, é querer conhecer gente, é gostar de pessoas e principalmente, entender como pode melhor servi-las.
Marcelo Nakagawa é professor de empreendedorismo do MBA Executivo do Insper
Fonte: Exame PME