Se você pensa que o caju é fruto do cajueiro, errou. Ele é o que se chama de receptáculo da castanha, esta, sim, a verdadeira fruta.
Fonte: Almanaque Cardápio de Alimentação por Mario Quintana
O cajueiro é daquele tipo de árvore da qual se aproveita quase tudo.
Da polpa do caju, muito mais rica em vitamina C do que a laranja e o limão, se extraem refrescos, batidas, doces e vinhos. O suco é considerado diurético. A castanha, afrodisíaca. Ainda verdes, recebem o nome de muturis e são empregados nas fritadas de peixes e camarões.
No Brasil Colônia, os negros escravos usavam o caju como remédio. Desembarcados enfraquecidos e vitimados de doenças, iam se recuperar e recobrar a saúde debaixo dos cajuais.
Paulo Eiró, em seu Livro dos alimentos, cita outros tantos usos para o cajueiro. A castanha de caju, classificada como uma verdadeira carne vegetal, é excelente fonte de proteínas e altamente eficaz na remoção de calos ou verrugas. As folhas do cajueiro, quando novas e em decocção, são cicatrizantes, e as cascas cozidas têm ação tônica e antidiabética. Se usadas em gargarejo, são muito eficazes contra aftas e afecções na garganta.
Mas foram os tupis que deram o uso mais pitoresco ao cajueiro: calendário. A sua frutificação marcava a passagem de um ano para outro e a idade dos membros da tribo era contada com castanhas de caju. Não é por outra razão que o caju é fruta tão difundida no Nordeste brasileiro, particularmente na Bahia.
É impossível competir com ele em diversidade de usos e nas mais variadas qualidades. Sem falar que o caju é mesmo muito gostoso. Cajus e Macacos No fim do ano de 1555, portanto pouco mais de meio século após o descobrimento do Brasil, chegou aqui, para uma longa viagem com intenções missionárias, o francês Jean de Léry, que publicaria um livro com a narrativa dessa aventura. Eis o que ele conta do caju, a que chama acaiú:
“Existe também no pais uma árvore tão alta como a sorveira da Europa;dá um fruto chamado acaiú que tem a forma e o tamanho de um ovo de galinha. Quando madura, a fruta se torna mais amarela do que o amarelo e não só tem bom gosto mas ainda dá um caldo acidulado agradável ao paladar.
No calor esse refresco é excelente, mas as frutas são muito difíceis de colher por causa da altura das árvores e só podíamos obter quando os macacos, ao comê-las, derrubavam grande quantidade”.
Texto Extraído do Almanaque “O Brasil inteiro à mesa” por Mário Quintana