Setor mineiro vê descarbonização viável com tecnologias atuais, mostra estudo

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A suíço-sueca ABB divulgou estudo que avaliou as percepções de lideranças da mineração sobre os esforços de descarbonização para tornar o setor neutro em emissões até 2050, conforme meta lançada há três anos pelas maiores mineradoras do mundo com assento no conselho ICMM, de mineração e metais.

A constatação mais relevante é que 70% dos 412 executivos e especialistas entrevistados em 18 países para o levantamento acreditam ser possível descarbonizar a mineração de forma “significativa” com a tecnologia atualmente disponível, desde que seja possível acelerar os investimentos em mitigação e resolver lacunas de infraestrutura e equacionar a volatilidade de preços de minerais.

A sondagem foi conduzida por uma empresa especializada em pesquisas de mercado, que baseou as conclusões em 400 questionários online e doze entrevistas qualitativas com executivos de mineradoras, provedores de tecnologia para a mineração e especialistas pré-selecionados, sem que nenhum deles soubesse ser a ABB a demandante do levantamento.

Na percepção da maioria dos participantes, a tecnologia atual, sendo a mais citada os veículos elétricos, já viabiliza em um número considerável de casos a substituição do diesel como fonte de energia, considerada fundamental para a meta de neutralidade. Estima-se que a queima do diesel em motores de caminhões e outros equipamentos responda pela metade das emissões do setor, que, no total, são estimadas em 7% de todos os gases de efeito estufa liberados diariamente na atmosfera.

Na opinião de 57% das lideranças ouvidas, hoje, a principal barreira ao “net zero” é a falta de capital para investir em tecnologias que permitam às mineradoras operar com menor impacto ambiental. Depois vem a ausência de infraestrutura, por exemplo, linhas de alta tensão próximas a extrações para viabilizar a eletrificação massiva, e a volatilidade dos preços das commodities minerais, apontadas como desafios por 53% e 50% dos respondentes, respectivamente.

Segundo o estudo, a limitação de capital para a descarbonização é creditada à relutância dos acionistas de mineradoras em aprovar aportes em tecnologias com pouco ou nenhum histórico de aplicação na mineração, nem retorno financeiro verificado. “Os investidores têm um papel importante a exercer [na descarbonização], mas a iniciativa de mudança não começa com as demandas deles. Precisamos [as mineradoras] tomar a dianteira e definir nossa própria agenda, em vez de sermos levados por expectativas que mudam o tempo todo”, afirma depoimento anônimo de um executivo de mineradora publicado no estudo.

A sondagem também mostra que essa relutância em investir tem refletido na confiança sobre o cumprimento das metas de descarbonização já traçadas. Ao menos 30% avaliam que suas empresas estão atrasadas nos esforços de mitigação. Somente 15% disseram estar “muito confiantes” de que vão cumprir as metas de 2030, e menos da metade, 48%, acredita ser possível atingir a neutralidade fixada para 2050.

Apesar disso, o estudo traz indícios de que os investimentos vêm sendo realizados de forma gradual nas tecnologias já vistas como funcionais. Uma parcela de 53% dos entrevistados confirmou que as operações de suas empresas devem passar por transformações relacionadas à descarbonização descritas como “significativas” e até “completas”, em alguns casos, já nos próximos cinco anos.

Outro dado relevante é que um percentual de 42% dos respondentes disse ter suas empresas a intenção de fazer investimentos para descarbonizar a frota de caminhões até 2026, no curto prazo, portanto. Um percentual de 68% disse esperar que ao menos ¼ de suas frotas sejam compostas por veículos elétricos até o ano de 2030.

Qualificação – Com planos em curso para adquirir ao menos os caminhões elétricos já viáveis principalmente em extrações subterrâneas, além dos sistemas acessórios necessários à operação desses equipamentos, as mineradoras também estão agindo para familiarizar suas equipes com essas novas tecnologias.

Segundo o levantamento, 70% dos entrevistados disseram que suas empresas já têm ações de capacitação voltadas aos colaboradores de seus quadros, com formações específicas para atividades de descarbonização e para formar engenheiros capazes de integrar tecnologias distintas, outro passo central para viabilizar a descarbonização.

Uma dessas empresas é a americana Freeport McMoRan. “Criamos um programa que busca endereçar a automação e os aspectos digitais da equação [da capacitação]”, disse aos entrevistadores Cory Stevens, presidente de serviços de mineração. “A preferência é, definitivamente, qualificar a nossa própria força de trabalho, em vez de tentar recrutar”.

O mesmo esforço começa a se ver nas instituições de ensino. “Estamos formando engenheiros para serem integradores, abordando diferentes disciplinas acadêmicas e demandas da mineração”, relatou aos pesquisadores Elisabeth Clausen, diretora do Instituto de Tecnologias Avançadas para Mineração da Universidade de Aachen, na Suécia.

O levantamento da ABB também reforçou a importância de decisões já tomadas pelas principais mineradoras, como se posicionar como organizações comprometidas com o enfrentamento do desequilíbrio climático, dialogar com a sociedade sobre o papel delas no desafio e mostrar-se como empresas em que tecnologia de ponta encontra usos nobres. 

Essas decisões, defende o texto, serão fundamentais para prevenir, inclusive, um apagão de talentos no futuro, sobretudo de engenheiros da Geração Z e Millennials, entre os quais prevalece a visão de que a mineração é uma atividade poluente.

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